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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

QUARESMA


  
Hoje, Quarta-feira de Cinzas, damos início ao Tempo Litúrgico da Quaresma.
A quaresma é o tempo litúrgico de conversão, que a Igreja marca para nos preparar para a grande festa da Páscoa. É tempo para nos arrepender de nossos pecados e de mudar algo de nós para sermos melhores e poder viver mais próximos de Cristo.
A Quaresma dura 40 dias; começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos. Ao longo deste tempo, sobretudo na liturgia do domingo, fazemos um esfoç...o para recuperar o ritmo e estilo de verdadeiros fiéis que devemos viver como filhos de Deus.
A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, de penitência, de conversão espiritual; tempo e preparação para o mistério pascal.
Na Quaresma, Cristo nos convida a mudar de vida. A Igreja nos convida a viver a Quaresma como um caminho a Jesus Cristo, escutando a Palavra de Deus, orando, compartilhando com o próximo e praticando boas obras. Nos convida a viver uma série de atitudes cristãs que nos ajudam a parecer mais com Jesus Cristo, já que por ação do pecado, nos afastamos mais de Deus.
Por isso, a Quaresma é o tempo do perdão e da reconciliação fraterna. Cada dia, durante a vida, devemos retirar de nossos corações o ódio, o rancor, a inveja, os zelos que se opõem a nosso amor a Deus e aos irmãos. Na Quaresma, aprendemos a conhecer e apreciar a Cruz de Jesus. Com isto aprendemos também a tomar nossa cruz com alegria para alcançar a glória da ressurreição.
40 dias
A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na Bíblia. Nesta, é falada dos quarenta dias do dilúvio, dos quarenta anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, dos quarenta dias e Moisés e de Elias na montanha, dos quarenta dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, dos 400 anos que durou o exílio dos judeus no Egito.
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades.
A prática da Quaresma data desde o século IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência. Conservada com bastante vigor, ao menos em um princípio, nas Igrejas do oriente, a prática penitencial da Quaresma tem sido cada vez mais abrandada no ocidente, mas deve-se observar um espírito penitencial e de conversão.
Você já fez seu propósito com Deus para esta Quaresma?
Boa noite!
Jonathan Padovini

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Política] Esquerda, Direita e Doutrina Social da Igreja

  A esquerda costuma "classificar" - segundo o método inventado por Stálin - todo mundo que não é da extrema esquerda como sendo de direita. Isso leva a algumas classificações totalmente absurdas (inclusive as auto-impingidas: o César Maia, que é de centro-esquerda e pendura pôsteres do Stálin nas paredes de seu escritório, se considera de direita). Vejamos, por exemplo, o fascismo: foi um movimento surgido como racha do Partido Socialista; pregava uma sociedade altamente controlada pelo Estado e pelos Sindicatos. A legislação trabalhista fascista foi importada aqui para o Brasil pelo Getúlio, e até hoje os PTs da vida a consideram maravilhosa, "uma grande conquista do trabalhador brasileiro", etc. Se vc perguntar para um petista se ele acha que o fascismo é direita ou esquerda, ele vai rugir: "extrema direita!". Se vc, entretanto, descrever o sistema fascista (governo forte, sindicatos fortes, estado de bem-estar social, restrições enormes à livre iniciativa privada (impostos progressivos, enorme quantidade de obrigações trabalhistas...), etc., sem jamais dizer de quem está falando, ele vai dar a resposta certa: "centro-esquerda".
 Aqui no Brasil nós temos uma centro-esquerda que posa de direita (sociais democratas do PSDB, os "coronéis" estatólatras do PFL, os "ruralistas" que só querem saber de subsídios estatais da semi-desaparecida UDR, etc.), uma extrema esquerda que se considera "a esquerda" (PT, PC do B...) e - o que é mais perigoso de tudo isso - um novo fenômeno, a extrema esquerda "evangélica" representada pelo governador do Estado do Rio (que será aliás apoiado pelo PC do B na campanha presidencial). Seu protestantismo serve como resposta pronta a qualquer acusação de comunismo, o que o torna capaz de ir beijar a mão do Fidel Castro e ficar por isso mesmo.
 Nós não temos no Brasil uma centro-direita (como o Partido Republicano americano ou o RPR francês), muito menos uma extrema-direita (que prega o Estado mínimo, com tudo o que não seja polícia e tribunais - e olhe lá! - em mãos particulares). O Pinochet, quando conseguiu livrar - de maneira bastante cruenta e feia - o Chile da ameaça marxista (basta ler os livros do Gabeira, que era a favor do Allende, para ver o tamanho da coisa: o instrutor cubano de tiro de bazuca dele se refugiou na mesma embaixada que ele quando os militares acabaram com aquela pouca-vergonha. Ora, um instrutor cubano de tiro de bazuca certamente não estava lá para fazer turismo...), mandou chamar os "Chicago boys", da escola de economia (liberal) de Chicago, para darem um jeito na economia chilena. As medidas tomadas foram de centro-direita.
 Mesmo assim, treinados pavlovianamente pelo pensamento marxista que hoje grassa por toda parte, os brasileiros tendem a considerar Pinochet como extrema direita. Ora, um sujeito que manteve um Estado tão presente na vida nacional quanto ele, com tantas regulamentações, presença de militares nas grandes empresas, etc., não é extrema-direita por nada desse mundo. Extrema direita não tem Estado grande.
 A Doutrina Social da Igreja prega o chamado princípio da subsidariedade. O que quer dizer isso? Que cada coisa deve ser feita no menor âmbito possível. A família deve fazer tudo o que puder. O que a família não puder fazer, o bairro faz. O que o bairro não puder fazer, o município faz. O que o município não puder fazer, o estado faz. O que o estado não puder fazer, a União faz. E por aí vai.
 Ora, o princípio de operação da esquerda é o oposto: centralismo é a palavra-chave. A extrema esquerda prega o centralismo completo; o Estado faz tudo, cuida de tudo, é o único dono dos meios de produção.
 A centro-esquerda prega o centralismo em tudo o que é grande, deixando uma certa margem de manobra para a livre iniciativa privada, auxiliada e controlada indiretamente, porém, pelo Estado. Assim a centro-esquerda gosta de SUDENEs e SUDAMs, sindicatos fortes, legislação trabalhista pesada, estado de bem-estar social, etc. A coisa vem de cima para baixo, sempre, mas é dada uma certa margem de manobra nas instâncias inferiores (ou seja, vc pode escolher a sua marca favorita de arroz, mas o produtor de arroz não pode negociar livremente seus preços, os salários que paga, etc.).
 O princípio de operação da direita é o oposto: tudo vem de baixo para cima. Nisso ele está de acordo com a Doutrina Social da Igreja. Há, porém, um problema: como qualquer teoria que veja o homem como ser econômico, e só, a direita tende a deixar de lado a importância da caridade (a esquerda força a redistribuição, e a direita acha que ela vai acontecer por conta própria. Na verdade nem um nem outro acontecem, a não ser que haja forte formação moral da população). Assim, a extrema direita, ao pregar a desregulamentação mais completa (o chamado capitalismo laissez-faire) acaba fazendo com que seja possível uma monopolização do mercado que impede, na prática, que haja livre negociação. Se uma só fábrica produz um produto, ou bem compramos desta fábrica ou não compramos e ficamos sem. Se uma só grande indústria emprega trabalhadores, ou aceitamos receber o que eles propõem ou ficamos desempregados. E por aí vai. A direita retruca dizendo que a "mão invisível do Mercado" vai resolver a situação, mas essa mão invisível costuma é matar de fome os aleijadinhos, impedir a pesquisa pura...
 A centro-direita, ao aceitar que haja freios aos monopólios, que haja um certo "engessamento" da economia, procura acertar um pouco as circunstâncias que podem gerar injustiças. O problema é que este "engessamento" sempre tende a aumentar, e sua ênfase na iniciativa individual acaba tornando difícil a ação grupal, a formação de instâncias intermediárias de poder, etc.
 Todas estas teses, por verem o homem apenas como animal econômico, são falhas e, em última instância, contrárias à Doutrina Social da Igreja. Algumas, porém, são frontalmente contrárias: as da extrema esquerda e da extrema direita. O Estado-Leviatã hobbesiano que na prática a extrema esquerda prega, assim como o anarco-capitalismo da extrema-direita, são frontalmente contrários à necessidade de justiça (que não significa igualdade! os homens não são iguais!) social.
 A centro-esquerda pode ser apoiada em questões específicas, pois apesar de ter um raciocínio errado (ao querer fazer tudo "ao contrário", de cima para baixo) acaba tendo por vezes maneiras inteligentes de lidar com as situações. A centro-direita também pode ser apoiada em questões específicas, quando suas (raras) intervenções estatais no mercado têm por objetivo corrigir injustiças. Notem que a centro-direita é a menos distanciada, dentre todas estas formas, da Doutrina Social da Igreja. Ela não é, porém, igual a esta Doutrina. Ela nega de facto a dignidade essencial do homem, ao vê-lo apenas como agente econômico. Ela nega de facto a obrigação do Estado de combater o erro, ao pregar a mais ampla liberdade e igualdade religiosa. E por aí vai.
 A Igreja já condenou formalmente e em bloco as teses da extrema esquerda, que são frontalmente contrárias à Revelação. Uma pessoa que venha a aderir a um partido ou movimento de extrema esquerda (PT, MST, PC do B, etc.) está excomungada por prestar adesão a uma ideologia inimiga da Igreja. As teses da extrema direita, talvez por ser ela um animal muito mais raro, não foram condenadas em bloco monoliticamente, mas são, ponto a ponto, condenadas. Assim, um católico até pode pertencer a um movimento de extrema direita desde que não aceite o que já foi condenado (ele não pode aceitar a "livre competição" religiosa, não pode negar a dignidade intrínseca do ser humano, etc.). Depende de como foram formuladas as teses da organização na papelada que ele teve que assinar para filiar-se, e de como é pregada a ideologia da organização. Mesmo assim, não é uma boa idéia.
 A participação dos católicos na política, portanto, pode ser feita sem maiores problemas em organizações de centro-esquerda e de centro-direita, desde que elas não preguem teses condenadas pela Igreja (por exemplo, que o poder dos governantes vem do povo). O problema é achá-las...
 Uma forma de participação, porém, que é plenamente de acordo com a Doutrina Social da Igreja é a participação em entidades comunitárias (associações de moradores, etc.) que busquem trazer para instâncias inferiores a solução de problemas que a elas, pela Doutrina da Igreja, competem resolver. Do mesmo modo, organizações não governamentais que lutem contra ou a favor de medidas respectivamente contrárias ou conformes à Doutrina da Igreja devem ser apoiadas. É papel do leigo unir-se a estas organizações e lutar, por exemplo, contra leis abortistas, a favor de leis que facilitem o porte de armas, a favor de leis que dêem à Igreja preponderância na sociedade, a favor de leis que permitam e incentivem a tomada de decisões pelas instâncias inferiores da sociedade (educação em casa, facilidade para estabelecimento de negócios sem muita burocracia), etc.

domingo, 31 de agosto de 2014

Credo Niceno-Constantinopolitano, ano de 381: "Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica".


       


Credo Niceno-Constantinopolitano, ano de 381: "Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica".

“A divisão é um dos pecados mais graves numa comunidade cristã, porque a torna sinal, não da obra de Deus, mas da obra do diabo. O diabo é, ...por definição, aquele que divide, arruína as relações, insinua preconceitos e suspeitas; Deus, ao invés, quer que cresçamos na capacidade de nos acolhermos, perdoarmos e amarmos, para nos parecermos cada vez mais com Ele, que é comunhão e amor. Nisto está a santidade da Igreja: reconhecer-se feita à imagem de Deus, repleta da sua misericórdia e da sua graça”.

PAPA FRANCESCO - 27.08.2014

O termo “romana” é considerada uma característica da Igreja incluída na sua apostolicidade pela Igreja Católica. Refere-se ao primado de Pedro e seus sucessores, os papas, cuja cátedra encontra-se em Roma.

“ E eu te declaro: tu és Pedro [Cepha], e sobre esta pedra [Cepha] edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus. ”

— Mateus 16:18-19,


A palavra para "Pedro" e para "pedra" em aramaico são a mesma (Cepha, também transliterado Kipha), assim Pedro é a rocha da Igreja, o princípio da unidade e de estabilidade.5 Nos países da Antiguidade, a chave é um símbolo de autoridade, deste modo, dando a Pedro as "chaves do reino dos céus" Cristo promete que Ele vai conferir ao apóstolo o poder de governar o Igreja, no seu lugar como seu Vigário.5 Em todos os evangelhos do Novo Testamento, Pedro encabeça os apóstolos (Mt 10,1-4; Mc 3,16-19; Lc 6,14-16; At 1,13). Pedro era o primeiro que falava em nome dos apóstolos (Mt 18,21; Mc 8,29; Lc 12,41; Jo 6,69), e preside muitas cenas notáveis (Mt 14,28-32; Mt 17,24, Mc 10,28). "Em cada Evangelho, ele é o primeiro discípulo, à ser chamado por Jesus."
 

sábado, 6 de outubro de 2012

O SACRAMENTO DA PENITÊNCIA


                     



“Se alguém pecou, temos junto do Pai um Advogado, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro” (I Jo II, 1ss).

(fontes: Catecismo de São Pio X e Catecismo Romano)


                                              DOUTRINA CATÓLICA

O Sacramento da Penitência é também chamado de Confissão e foi instituído por Jesus Cristo para perdoar os pecados cometidos depois do Batismo. Foi instituído por Cristo no dia da sua Ressurreição quando, depois de entrar no cenáculo, deu solenemente aos seus Apóstolos o poder de perdoar os pecados:

“Soprou sobre eles dizendo: ‘Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos’” (Jo XX, 22-23).

A Penitência é sacramento próprio e verdadeiro pois tira todos os pecados cometidos depois do Batismo. Além disso, os atos exteriores, tanto do penitente como do sacerdote, são os sinais sensíveis daquilo que se opera interiormente na alma: o pecador professa claramente, por palavras e ações, que seu coração já se apartou da torpeza do pecado; no sacerdote, em suas palavras e ações, reconhecemos a misericórdia de Deus, que perdoa esses mesmos pecados: Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos’ (Jo XX, 23).A absolvição enunciada pelas palavras do sacerdote exprime a remissão dos pecados, que se opera dentro da alma.

“A virtude de apagar os pecados lhe é tão própria, que sem a Penitência não podemos absolutamente alcançar, nem sequer esperar uma remissão de pecados. Pois está escrito: ‘Se não fizerdes penitência, todos vós perecereis da mesma maneira’ (Lc XIII, 3)” (Catecismo Romano).

Forma

As palavras: “eu te absolvo dos teus pecados em nome do pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Ministro

É o sacerdote aprovado pelo Bispo para ouvir confissões, pois para administrar validamente este Sacramento, não basta o poder da Ordem, mas também é necessário o poder de jurisdição, isto é, a faculdade de julgar, que deve ser dada pelo Bispo.

Partes da Penitência

“A penitência impele o pecador a suportar tudo de boa vontade. Em seu coração está o arrependimento; em sua boca, a acusação; em suas obras, plena humildade e proveitosa satisfação” (São João Crisóstomo).

1.      Contrição
2.      Confissão
3.      Satisfação
4.      Absolvição


A Penitência é um sacramento que pode ser reiterado. Quando Pedro perguntou se podia dar o perdão de um pecado até sete vezes, Nosso Senhor lhe respondeu: “Eu não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt XVIII, 22).



Para se fazer uma confissão bem feita se requer cinco coisas:

    -  exame de consciência;
    -  dor de ter ofendido a Deus;
    -  propósito de nunca mais pecar;
    -  acusação dos próprios pecados;
    -  satisfação ou penitência;


Modo de se confessar

Posição do penitente: “Quem está, pois, arrependido de seus pecados, prostra-se humildemente aos pés do sacerdote, para que esse ato exterior de humildade lhe faça reconhecer como é necessário arrancar da alma todas as raízes de orgulho, donde nasceram e vingaram todos os pecados que agora lamenta” (Catecismo Romano).

Posição do sacerdote: “No sacerdote, que se conserva sentado, como seu legítimo juiz, venera ele a pessoa e o poder de Cristo Nosso Senhor. Pois na administração da Penitência, como nos demais Sacramentos, o sacerdote exerce o ministério de Cristo” (Catecismo Romano).

terça-feira, 18 de setembro de 2012

VIDA PÚBLICA DE JESUS

Vida pública de Jesus
 

 
Aos 30 anos, iniciando sua vida pública, Jesus foi batizado. Os quatro Evangelhos narram o seu Batismo (Mt 3, 13s) - (Mc 1, 9s) - (Lc 3, 21s) - (Jo 1, 29s). João Batista vivia no deserto, pregando penitência, isto é, mudança de atitude, Vida Nova, purificação. "Preparai os caminhos do Senhor" - repetindo Isaías - ele clamava no deserto.

Pessoalmente, João desconhecia Jesus. Mas, assim que O viu, reconheceu-O. Como O reconhecera, ainda no ventre de sua mãe. João, homem de Deus, cheio do Espírito Santo, reconhecia o seu Senhor. E apresentou-O ao povo judaico: "Eis o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo". E, sem precisar de batismo, Jesus foi batizado. Por quem era menor do que Ele. (Mais um desafio.)

Nessa hora, aconteceu um milagre: a manifestação da Santíssima Trindade: sobre Sua cabeça surgiu uma pomba (o Espírito Santo), enquanto se ouvia uma voz: "Este é meu Filho bem-amado".

Como "o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo", Jesus provou ser o Messias prometido, o Salvador esperado, o Verbo que se fez Carne. Ele mesmo o afirma: O Messias sou eu que lhe estou falando" - disse à Samaritana (Jo 4, 26).

E prova-o com Seus milagres. Nele, realizam-se todas as profecias, inclusive as que Ele mesmo fez, como, por exemplo, a de Sua ressurreição (Lc 18, 33). Além disso, dá, ainda, o testemunho de Sua inigualável doutrina - doutrina ensinada e vivida.

Vemos, após o Batismo, a tentação de Jesus, pelo demônio. Excetuando o pecado, Ele quis sentir toda a nossa fraqueza, toda a nossa miséria. Quis ser como um de nós, para que nos tornássemos como Ele. Mostrou-nos que o justo é provado - e provado, deve manter-se fiel.

Depois, Ele escolheu Seus discípulos. Entre estes, os apóstolos. "Vem e segue-me" - e aqueles homens rudes largaram suas redes para tornarem-se pescadores de homens. Simão passou a chamar-se Pedro. Pedro, porque seria a pedra fundamental da Igreja que nascia.

Da Igreja, depositária de Sua Doutrina. E de Seu Sangue. Da Igreja que deveria permanecer (sob a assistência do Espírito Santo) "até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20).

Conforme anunciara o profeta, em parábolas Ele ensinou (Mt 13, 35). É fácil encontrá-las nos Evangelhos. Como são fáceis de se encontrar os Seus milagres. O difícil é escolher a parábola mais bonita, ou mais atual. Como é difícil escolher o milagre mais significativo.

Toda a vida de Cristo é beleza e claridade. "Eu sou a Luz do mundo". Toda a sua vida é amor e convite à perfeição. "Quem me segue, não anda em trevas". "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida".

O primeiro milagre de Jesus foi o das "bodas de Caná". A pedido de Nossa Senhora. Conta-o S. João, no cap. 2. Durante a festa, o vinho acabou. Maria, a boa Mãe, percebeu: "Eles não têm mais vinho". E Jesus, apesar de não Ter chegado ainda a Sua hora, atendeu ao pedido dela.

Maria disse aos criados: "Fazei o que Ele vos mandar" - e ele fizeram. Então, naquele festim de amor, a água transformou-se em vinho. Numa figura da hora de amor maior em que o vinho se transformaria em Sangue.

São várias as lições aí encontradas: a bondosa solicitude e o poder da Virgem Mãe, a importância de fazer o que Ele manda, a ligação deste milagre com aquele maior em que nós somos convidados para as "bodas de Sangue". Maria a "Medianeira de todas as graças", é nossa advogada. É a "Onipotência suplicante" a quem podemos recorrer, a qualquer momento. Deus a atende. Sempre.

Por duas vezes, Jesus realizou o milagre da multiplicação de pães e peixes. Os quatro Evangelistas descrevem o primeiro (Mt 14, 15s - Mc 6, 41s - Lc 9, 12s - Jo 6, 10s). E S. Mateus e S. Marcos (Mt 15, 32s e Mc 8, 1s) narram, também, o segundo.

S João, no mesmo capítulo (6, 32s) em que trata do assunto, prossegue referindo-se à promessa da Eucaristia - o Pão da Vida eterna - e insiste nas categórica afirmações de Jesus acerca de um dos mais belos mistérios da fé: "Eu sou o pão da vida: o que vem a mim, não terá fome, e o que crê em mim, não terá jamais sede";

"Eu sou o pão vivo que desci do céu. Se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que eu darei, é a minha carne para a vida do mundo." "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. O que como a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida.

O que come a minha carne e bebe o meu sangue fica em mim e eu nele. Assim como me enviou o Pai que vive, e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo o que me come também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu. Não é como o maná que vossos pais comeram, e morreram. O que come este pão viverá eternamente". - Era o convite para as bodas de sangue...

... "Muitos, porém, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: 'Dura é esta linguagem, e quem a pode ouvir?' E, por causa disso, muitos O deixaram. Queriam coisas mais fáceis, uma doutrina mais leve, menos exigente, mais adaptada à mediocridade.

Mas Jesus não retirou uma palavra do que dissera. Ao contrário, dirigindo-se aos apóstolos, perguntou-lhes: "Porventura quereis, vós, também, retirar-vos?" Respondeu-lhe, então, Pedro: 'Senhor, para quem havemos de ir? Tu tens palavras de vida eterna'."

É ainda, o mesmo apóstolo, o que descreve a ressurreição de Lázaro (Jo 11, 1s). De Lázaro, por quem Jesus chorou. Jesus que, em outra oportunidade, a chicotadas, expulsou os vendilhões do Templo, chorou com a morte de Lázaro. Servindo-nos de modelo, revela-se viril e compassivo, firme e suave, enérgico e paciente.

Lázaro (morto há 4 dias) era irmão de Marta e Maria.Marta foi, primeiro, ao encontro de Jesus: "Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas eu sei que mesmo agora tudo o que pedires a Deus, Deus te concederá". Respondeu-lhe Jesus: "Teu irmão ressuscitará".

Marta disse-lhe: "Bem sei que há de ressuscitar na ressurreição, no último dia". Disse-lhe Jesus: "Eu sou a ressurreição e a vida. O que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Crês isto? " Ela respondeu: "Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, Filho de Deus Vivo, que vieste a este mundo. "

Maria, assim que soube da presença de Jesus, indo depressa ao seu encontro, fez-lhe a mesma queixa: "Senhor, se estiverdes aqui, não teria morrido meu irmão". E Jesus perturbou-se. E Jesus chorou. Era homem. Plenamente homem. E, como, também, era Deus, plenamente Deus, Lázaro foi ressuscitado e entregue às suas irmãs. As suas irmãs a quem Ele dissera: "Eu sou a ressurreição e a vida. O que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá".

Em outro sentido - também real - é preciso saber: mesmo que tudo tenha morrido em nós, um ato de fé em Jesus Cristo pode animar-nos. Suas palavras são, realmente, "palavras de vida eterna" - para quem as leva a sério.

Vejamos algumas de suas parábolas. A do "filho pródigo", por exemplo (Lc 15, 11-32): deixando a casa do pai, o moço rico, distanciando-se cada vez mais, acabou vivendo entre os porcos. Mas "entrou em si". Admitiu sua culpa. Arrependeu-se. E decidiu-se a voltar. Então, o pai foi ao seu encontro. E houve festa e alegria - porque o filho morto ressuscitara.

A rigor, todos somos filhos pródigos. Todos somos moços ricos, filhos de pai generoso. Iludidos por quimeras. Frequentemente esbanjamos tesouros (a fé, a pureza, a paz da consciência). Afastando-se de Deus, quantos passam a viver na miséria do pecado! Mas a Misericórdia nos espreita e nos espera. E nos procura. Jesus é o "bom pastor" que vai atrás das ovelhas desgarradas.

Ele nos recebe e nos salva. Porque o amor é mais poderoso do que a morte. Mas é preciso que queiramos. Efetivamente. Porque, no fundo da miséria, Deus respeita a nossa dignidade de homens - de homens que Ele não fez escravos nem autômatos, mas filhos de Rei.

São Mateus, no capitulo 22, conta a parábola da núpcias do filho do rei. "O reino dos céus é semelhante a um rei que tratou núpcias para seu filho". A união de Cristo com a Igreja é, frequentemente, comparada as núpcias.

S. Paulo (Ef 5, 25) fala a esse respeito. Já vimos a relação entre o primeiro casal (Adão e Eva) e Cristo e a Igreja, sua "esposa". Outro sentido não tem o "Cântico dos Cânticos" além da exaltação deste casamento místico de Cristo com sua Igreja. Particularmente, no estilo oriental, nada exprimiria melhor o amor divino do que imagens do amor humano.

Portanto, "um rei" (Deus Pai) nos convida para um festim de amor (as boda de Cristo com a Igreja). Por meio dos profetas, os judeus foram os primeiros convidados. Mas rejeitaram o convite. Convite que foi aceito por pagãos.

Estes foram à festa. Mas um não estava vestido de acordo - e, por isso, foi expulso. Porque, para aquele festim de amor, a veste deve ser pura. Pura como a que recebemos no Batismo. Vestidos com a graça de Deus é que vamos a um casamento de Rei.Nas "bodas de sangue", no mais profundo mistério de amor, há, sobre a mesa, Pão e Vinho. E os convivas se alimentam de eternidade.

sábado, 11 de agosto de 2012

A PALESTINA NO TEMPO DE JESUS



          
Encontro de Crisma, 12/08/2012
Tema: A Palestina no Tempo de Jesus

A Palestina no Século I d. C.

O objetivo deste texto é procurar reconstruir, em linhas gerais, como estava organizada política, econômica, social e religiosamente a Palestina no século I d.C., momento em que Jesus nasceu e o Novo Testamento foi escrito. Compreendemos que quanto mais conhecermos o cotidiano palestinense neste período, será mais fácil avaliar o impacto da mensagem cristã.
A Palestina é uma estreita área situada entre a África e a Ásia, funcionando como uma espécie de ponte entre estas regiões. Com um território menor que o nosso estado do Espírito Santo, possuía uma superfície de 34.000 Km2 e cerca de 650 mil habitantes. Encontrava-se dividida em áreas menores: Judéia, Samaria e Galiléia, à oeste; Ituréia, ao norte; Gualanítade, Batanéia, Traconítide, Auranítide, Decápole e Peréia, à leste e Iduméia ao sul. Vamos centrar nas regiões situadas à oeste, já que a maior parte dos fatos referentes a vida de Jesus ocorreram neste cenário.

  Quadro político e administrativo
 
A Palestina, durante as vidas de Jesus e de Paulo, foi governada, principalmente, pela Dinastia Herodiana. Contudo, este quadro não é tão simples, já que esta região estava subdividida em outras que, neste período, possuíram formas de governo e administração distintas.
Como sabemos, em 63 a.C. Roma conquistou a Palestina, aproveitando a fragilidade da dinastia asmonéia em crises internas. Hircano, um dos descendentes de Simão Macabeu, foi recolocado ao trono por Júlio César, que institui a Antípatro, ou Antípater, natural da Induméia, como seu procurador. Foi um dos filhos de Antípatro, Herodes, que acabou por fundar a nova dinastia judaica, a dos herodianos, e manter a região independente por mais algum tempo.
Herodes governou entre 37 a 4 a.C. os territórios da Judéia, Samaria, Induméia, Galiléia e Peréia. Estas áreas foram divididas entre seus filhos após a sua morte: Herodes Arquelau herdou a Judéia, Samaria e a Induméia, que governou até 4 d.C. e Herodes Antipas, as regiões da Galiléia e Peréia, de 4 a.C. - 39 d.C.. Este último é, dentre os soberano herodianos, o mais citado no Novo Testamento (Cf. Lc. 3:1; 9:7-9; 13: 31-32; 23: 7-12; Mt. 14: 1-12).
De 6 até 41 d.C, a Judéia, Samaria e a Induméia passaram a ser administradas diretamente por procuradores romanos. Agripa I, neto de Herodes, governou esta região entre 41 a 44 d.C. Após este período, a administração voltou para as mãos dos procuradores romanos.
Os procuradores eram funcionários diretamente ligados ao imperador. Sob este título eram denominados diversos funcionários que possuíam atribuições diferentes. Eles provinham da ordem eqüestre, ou dos cavaleiros, e eram remunerados. Os procuradores palestinos estavam subordinados ao governador da Síria. Entretanto, como representantes diretos do Imperador, detinham poderes civis, militares e jurídicos. Eles residiam em Cesaréia, mas em épocas de festa religiosas se transferiram para Jerusalém, já que, nestas ocasiões, esta ficava apunhada de fiéis.
Faz-se importante ressaltar que as questões internas da comunidade judaica, contudo, mesmo sob a administração romana, eram resolvidas pelo Sinédrio, tribunal presidido pelo sumo-sacerdote e formado por 71 membros (anciões, sumo-sacerdotes depostos, sacerdotes do partido dos saduceus e escribas fariseus), com sede em Jerusalém. Provavelmente instituído ainda no século III aC, no século I dC possuíam atribuições jurídicas: julgavam os crimes contra a Lei Mosaica, fixavam a doutrina e controlavam todos os aspectos da vida religiosa. Em todas as cidades e vilas da Palestina também existiam pequenos sinédrios formados por três membros que cuidavam de questões locais (Mt. 5:25).
Ainda que Roma tenha procurado manter as estruturas locais anteriores à conquista e tenha respeitado a idiossincrasia judaica no tocante à diversos aspectos (cf. Estudo 1), a dominação romana implicou na progressiva romanização e helenização e na cobrança de inúmeros impostos diretos e indiretos.
Neste sentido, face a irreversível ocupação romana na região, surgiram movimentos de resistência armados, como os zelotas. Historiadores, como Flávio Josefo, e o próprio Novo Testamento apresentam indícios de que ocorreram, no período, alguns levantes pontuais contra Roma (Lc. 13;1; At. 5: 36-37, 21:37).
Pouco a pouco grandes parcelas da população foram mobilizadas contra o controle romano, o que resultou no embate militar que durou de 66 a 70 dC e é conhecido como Guerra Judaica. Foi no decurso desta guerra que o Templo de Jerusalém foi novamente destruído e levaram que a política tolerante de Roma em relação aos judeus fosse revista.
Estes acontecimentos marcaram profundamente a judeus e cristãos. Seus reflexos encontram nos textos neotestamentários e foram um fator decisivo no rompimento definitivo entre judeus e cristãos. Com a destruição do Templo, cessaram os sacrifícios. O culto nas sinagogas ganharam importância, sendo dirigidos pelos Rabis fariseus. A Judéia tornou-se província romana, na qual se encontravam duas legiões estacionadas. Contudo, as revoltas não cessaram.
Em 132 a Palestina torna-se palco de nova revolta, agora liderada pelo judeu Simão Bar-Kosba. Esta insurreição resultou numa acentuada baixa demográfica na Palestina. Jerusalém foi destruída e reconstruída como colônia romana, ou seja, ali foram fixados soldados aposentados de diversas origens. Os judeus foram proibidos de entrar na cidade. No local do Templo foi construído um templo pagão.
 
Organização econômica
 
Devido a sua posição estratégica, a palestina era uma região de passagem. Por ela circulavam soldados, comerciantes, mensageiros, diplomatas, etc. Esta região possuía importantes centros urbanos, como Cesaréia e Jerusalém, que concentravam pessoas e atividades econômicas. Como em outras áreas do Império, nesta região existiam vias e portos, que facilitavam as comunicações e transporte de mercadorias e pessoas.
Existia, na região, uma incipiente manufatura, especializada na defumação ou salgação de peixes, construção, fiação e tecelagem, produção de artigos em couro, cerâmica, além de um artesanato de produtos de luxo, como perfumes e a extração e tratamento do betume, substância utilizada para a calafetagem dos navios. Além disso, outros ofícios se faziam presentes, principalmente nas grandes cidades, tais como os padeiros, carregadores de água, barbeiros etc.
O comércio, tanto interno quanto externo, também era praticado. O comércio interno, pouco conhecido, consistia-se nas trocas locais e, sobretudo, visava o abastecimento das grandes cidades. Quanto ao externo, importava-se produtos de luxo, consumidos pelas elites e pelo Templo. Por outro lado, exportavam-se alimentos – frutas, óleo, vinho, peixes – e manufaturas, como perfumes, além do betume.
A principal atividade econômica da região, contudo, era a agricultura. Plantava-se trigo, cevada, figo, azeitonas, uvas, tâmaras, romãs, maçãs, nozes, lentilhas, ervilhas, alface, chicória, agrião etc. Além da plantação de alimentos, eram encontrados cultivos especiais, voltados para a produção de manufaturas, como rosas, para a produção de essências para os perfumes.
As atividades de pesca, pecuária e extrativismo também não podem ser esquecidas, devido a sua grande importância econômica. Banhada pelo Mediterrâneo, cortada por rios e possuindo lagos, não é difícil constatar a variedade de peixes e seu papel para o abastecimento interno e até exportação. Quanto a pecuária, a região possuía rebanhos de ovelhas, cordeiros e bois. No campo da extração, além do já mencionado betume, há que ressaltar a variedade de árvores, como o salgueiro, loureiro, pinheiros, das quais se extraía madeira, temperos e essências; certos animais, como pombas; e alimentos, como o mel.
 
Organização Social
 
A sociedade palestinense pode ser dividida em quatro grandes grupos socioeconômicos: os ricos, grandes proprietários, comerciantes ou elementos provenientes do alto clero; os grupos médios, sacerdotes, pequenos e médios proprietários rurais ou comerciantes; os pobres, trabalhadores em geral, seja no campo ou nas cidades; e os miseráveis, mendigos, escravos ou excluídos sociais, como ladrões.
Contudo, as diferenças sociais na palestina não se pautavam somente na riqueza ou pobreza do indivíduo, mas em diversos outros critérios, como sexo, função religiosa, conhecimento, pureza étnica, etc. Ou seja, uma mulher, ainda que proveniente de uma família rica, estava numa situação social inferior a de um levita; um samaritano, apesar de ser descendente dos israelitas, devido à miscigenação, era considerado impuro e, socialmente, inferior a uma mulher judia, para citar só dois exemplos.
 
Instituições religiosas
 
O Templo foi, até 70 dC, o mais importante centro religioso judaico. Destruído duas vezes, estava sendo reconstruído neste período. As mulheres e os não circuncidados não podiam entrar no interior do Templo. Neste edifício eram realizados os sacrifícios; o sinédrio se reunia; eram armazenadas as riquezas e impostos dirigidos ao Templo, bem como os objetos de culto. Ou seja, o Templo era muito mais do que um local de culto. Sobretudo, era o centro de toda a vida religiosa, econômica e política judaica. Suas atividades e organização revelam os valores e as divisões desta sociedade, onde os sacerdotes e conhecedores da Lei possuem privilégios, só os homens circuncidados são levados em conta e mulheres e gentios são colocados à margem.
Organizando a vida religiosa e os cultos no templo existiam um amplo clero chefiado pelo sumo-sacerdote, que provinham das famílias mais ricas judaicas da palestina. Os sacerdotes, tanto sob o governo dos herodianos quanto dos procuradores, eram escolhidos e destituídos pelos governadores civis. Logo, este posto possuía um marcado caráter político.
O sumo-sacerdote era auxiliado por diversos funcionários, todos provenientes das famílias mais importantes: o comandante do Templo; os chefes das 24 equipes semanais, os sete vigilantes, três tesoureiros.                        
Além do sacerdote supremo, existiam cerca de 7 mil outros sacerdotes divididos em 24 equipes que se revezavam nos serviços do Templo. Em média, cada sacerdote atuava cinco vezes por ano. Recebiam salário, que provinha dos sacrifícios e do dízimo. A função sacerdotal era hereditária. Ao lado dos sacerdotes, haviam 10 mil levitas, também organizados e 24 equipes. Atuavam como músicos ou porteiros, também cinco vezes ao ano. Não recebiam salários.
As sinagogas também eram centros religiosos, já que nelas se cultuava a Deus e era estudada a Lei, tal como ocorre ainda hoje. Nelas, qualquer judeu poderia ler e fazer comentários à Lei, o que não ocorria na prática, função que acabava controlada pelos especialistas nas escrituras, os escribas e rabis farisaicos.
As festas religiosas também possuíam um papel destacado na vida judaica. Nestas ocasiões o povo se reunia em Jerusalém e celebrava a intervenção divina em sua História. Mais do que um momento de comemoração, tais datas serviam para perpetuar a memória e as tradições do povo. Três festas eram consideradas mais importantes: a Páscoa, que recordava a libertação da escravidão no Egito; Pentecostes que ocorria na época da colheita e recordava a Aliança do Sinai; Tendas, que festeja o próprio Templo.
Outras práticas religiosas judaicas comuns no século I dC eram a circuncisão, a guarda do Sábado, a oração cotidiana, realizada pela manhã e à tarde. Contudo, apesar de uma aparente unidade, o Judaísmo estava subdividido em uma série de facções político-religiosas, que apresentaremos no próximo item.
 
O Judaísmo no século I
 
Muitas pessoas pensam no judaísmo do século I dC como um bloco monolítico, uma religião solidamente unificada que o cristianismo dividiu, formando uma religião nova. Entretanto, haviam muitos subgrupos diferentes dentro de judaísmo antigo e o movimento de Jesus era, à princípio, só um deles. Assim, a separação do cristianismo do judaísmo não foi súbita, mas aconteceu gradualmente.
O Judaísmo no tempo de Jesus parecia muito com as divisões internas do cristianismo de hoje. Todos os judeus tinham certas crenças comuns e praticaram alguns aspectos da religião: eram monoteístas, praticavam a lei de Moisés, circuncidavam-se, etc. Porém, os diferentes grupos judeus debatiam e discordavam entre si sobre muitos detalhes, tais como as expectativas sobre o Messias, os rituais e as leis de pureza, sobre como viver sob a dominação estrangeira.
Para entendermos o Novo Testamento mais completamente, especialmente como a vida de Jesus é apresentada nos Evangelhos, nós precisamos conhecer a variedade dos grupos judeus que existiram no primeiro século.
Josefo, historiador judeu do primeiro-século, descreve três grupos principais com suas filosofias ou modos de vida: os fariseus , Saduceus, e Essênios. Ele também menciona vários outros grupos políticos e revolucionários judeus ativos no primeiro século d.C., especialmente durante a primeira Guerra contra Roma (66-70 d. C.). O Novo Testamento menciona os Fariseus e Saduceus, além de vários outros grupos identificáveis a partir da pequenas menções. São estas informações que nos permitem reconstruir tais partidos político-religiosos. A seguir, vamos apresentar os principais grupos e suas características:
 
1- Fariseus
 
Os fariseus formavam um grupo ativo, numeroso e influente na Palestina desde o século II a.C.. O termo Fariseu provavelmente significa, em hebreu, separado e se refere à observância rígida das leis e tradições por parte dos membros do grupo (Lc. 18:10-12). Seus líderes eram chamados de rabinos ou professores, tal como Gamaliel, já que se dedicavam a estudar e comentar as escrituras (Atos 5:34; 22:3).
Os Fariseus aderiram e defendiam a observância rígida do sábado sagrado, dos rituais de pureza, do dízimo, das restrições alimentares, baseando-se nas Escrituras hebraicas e em tradições orais mais recentes (Mc. 7:1-13; Mt. 15:1-20). Se opunham à romanização e à helenização. Seus maiores rivais políticos e religiosos foram, durante muito tempo, os Saduceus, principalmente devido a postura pró-roma deste grupo. Esta rivalidade, contudo, não os impedia de unirem-se em alguns momentos em que os objetivos faziam-se comuns.
Em sua maioria, os fariseus eram leigos, ainda que entre eles fossem encontrados alguns levitas e membros do Sinédrio (Atos 5:34). Consideravam-se sucessores de Esdras e dos primeiros escribas. Eram os freqüentadores das sinagogas e buscavam divulgar a interpretação da Lei escrita e oral.
Em contraste com os Saduceus (Mc. 12:18-27), os Fariseus acreditavam na ressurreição dos mortos, no livre arbítrio do homem, na onipresença de Deus, no papel da Lei como um freio para os impulsos negativos dos homens (Atos 23:1-8). Os Evangelhos os retratam como os principais oponentes de Jesus (Mc. 8:11; 10:2) e que teriam conspirado junto com os herodianos para matá-lo (Mc. 3:6). Por outro lado, Jesus dirige algumas críticas severas contra a hipocrisia e cegueira do Fariseus (Mt. 23; Jo. 9). Contudo, em termos teológicos, cristãos e fariseus concordavam em alguns aspectos, o que explica o grande número de fariseus que acabaram por tornar-se cristãos (Atos 15:5). Paulo, antes de converter-se ao cristianismo, era um fariseu (Fil. 3:5; Atos 23:6; 26:5).
Mesmo após a Guerra Judaica, os fariseus permaneceram ativos. Como, dentre as seitas de então, não foi eliminado, passou a dirigir o Judaísmo e a rivalizar com os cristãos.
 
2- Saduceus
 
Os saduceus formavam outro grupo proeminente de judeus na Palestina entre os séculos II a.C. ao I d.C. . Não se sabe ao certo a origem da palavra Saduceus. Alguns crêem que vem do hebreu saddiqim, que significa íntegro ou derivado de Zadok, nome do mais importante sacerdote durante o reinado de Davi (1 Reis 1:26). Organizaram-se no período da dinastia asmonéia, momento de prosperidade política e econômica. Eles eram um grupo formado pela elite, principalmente proveniente das famílias da alta hierarquia sacerdotal. Provavelmente era menor, mas mais influente que os Fariseus. Sua influência, porém, era sentida sobretudo entre os grupos governantes ricos.
Seguiam somente as leis escritas, presentes na Bíblia hebraica (a Torah), e rejeitavam as tradições mais novas. não acreditavam em vida depois de morte (Mc. 12:18-27; C. 20:27); em anjos ou espíritos (Atos 23:8) ena Providência Divina. Eram altamente ritualistas e só aceitavam os cultos realizados no Templo onde, acreditavam, Deus estava. Possuíam um papel preponderante no Sinédrio e controlavam as atividades e riquezas do Templo (Atos 4:1; 5:17; 23:6).
Rejeitaram os ensinos do Fariseus, especialmente as tradições orais e as tradições mais novas. Além dos fariseus, rivalizavam com os Herodianos, porém, eram simpáticos à romanização e à helenização. Os Evangelhos os retratam freqüentemente junto com o Fariseus como oponentes de Jesus (Mt. 16:1-12; Mc. 18:12-27). Com a destruição do templo e a efetivo domínio romano, esta seita acabou por desaparecer.
 
3- Essênios
 
Os essênios formavam um grupo minoritário que estava organizado como uma comunidade monástica em Qumram, área localizada perto do Mar Morto, desde o século II a.C. até o século I d.C, quando em 68 foram eliminados pelos romanos durante a Guerra Judaica. Alguns crêem que o nome essênios deriva do grego hosios, santo, ou isos, igual, ou ainda do hebraico hasidim, piedoso. Ou seja, não há consenso. Sua origem pode estar associada à era macabéia, quando um grupo, liderado por um sacerdote, teria fundado a comunidade. Eles rejeitaram a validez da adoração de Templo, e assim recusavam-se a assistir os festivais ou apoiar o Templo de Jerusalém. Eles consideraram os sacerdotes de Jerusalém ilegítimos, desde que não fossem Zadokites, ou seja, descentes de Zadok, dos quais eles próprios se viam como descendentes.
Eles viviam em regime comunitário com exigências rígidas, regras, e rituais. Provavelmente também praticavam o celibato. Esperaram que Deus enviasse um grande profeta e dois Messias diferentes, um rei e um sacerdote. O objetivo dos essênios era manterem-se puros e observar a lei. Praticavam um culto espiritualizado e sem sacrifícios e possuíam uma teologia de caráter escatológico. Dentre os ritos observados, estava a prática do batismo por imersão periódico, como forma de purificação. Eles interpretavam a Lei de forma literal e produziram diversos textos que foram considerados, posteriormente, apócrifos, como a Regra da Comunidade.
Os essênios não são mencionados no Novo Testamento. Contudo, alguns estudiosos pensam que João Batista e o próprio Jesus estavam associados a este grupo, mas uma conexão direta é improvável.
 
4- Herodianos
 
Os herodianos formaram a facção que apoiou a política e o governo da família dos Herodianos, especialmente durante o reinado de Herodes Antipas, que governou a Galiléia e Peréia durante as vidas de João Batista e de Jesus.
No Novo Testamento são mencionados só duas vezes em Marcos e uma vez em Mateus. Em Marcos 3:6, como já assinalamos, eles conspiram com os Fariseus para matar Jesus, quando este iniciava o seu ministério na Galiléia. Em Marcos 12:13-17 e Mateus 22:16 eles figuram, novamente unidos a alguns Fariseus, tentando apanhar Jesus com uma pergunta sobre o pagamento de impostos ao César. Alguns autores acreditam que as referências neotestamentárias aos amigos e funcionários do tribunal de Herodes também estão relacionadas aos herodianos (Mc. 6:21, 26; Mt. 14:1-12; 23:7-12). Esta seita desapareceu com o efetivo domínio romano na região palestina.
 
5- Zelotes
 
Os zelotes eram um grupo religioso com marcado caráter militarista e revolucionário que se organizou no I século d.C. opondo-se a ocupação romana de Israel. Também foram conhecidos como sicários, devido ao punhal que levavam escondido e com o qual atacavam aos inimigos.
Seus adeptos provinham das camadas mais pobres da sociedade. À princípio, foram confundidos com ladrões. Atuaram primeiro na Galiléia, mas durante a Guerra Judaica tiveram um papel ativo na Judéia.
Os zelotes se recusavam a reconhecer o domínio romano. Respeitavam o Templo e a Lei. Opunham-se ao helenismo. Professavam um messianismo radical e só acreditavam em um governo teocrático, ocupado por judeus. Viam na luta armada o único caminho para enfrentar aos inimigos e acelerar a instauração do Reino de Deus.
Um de discípulos de Jesus é chamado de Simão, o Zelote em Lucas 6:15 e Atos 1:13. Alguns autores apontam que ele poderia ter pertencido a um grupo revolucionário antes de se unir a Jesus, mas o sentido mais provável era de " zeloso " na sua acepção mais antiga.
 
6- Outros grupos
 
Além dos grupos político-religiosos aqui representados, não podemos deixar de mencionar os outros segmentos que participavam do cenário religiosos judaico no I século: os levitas, como vimos no estudo anterior, que formavam o clero do Templo de Jerusalém e que eram os responsáveis pelos sacrifícios e pelos cultos; os escribas, hábeis conhecedores e comentadores da Lei; os movimentos batistas, seitas populares que mantinham as práticas de batismo de João Batista, dentre outros.
Quando Jesus Cristo iniciou sua pregação foi visto como mais um dentre os diversos grupos que já possuíam interpretações próprias da lei. Contudo, a mensagem de Cristo mostrou-se revolucionária, chegando a formar uma nova religião. Jesus soube colocar o homem acima da Lei e das tradições e proclamou que qualquer mudança só poderia se iniciar a partir do coração do homem que, pela fé em seu sacrifício salvador, era restaurado.

 
Conclusão
 
A Palestina no século I dC era um grande mosaico de povos e costumes. Dominados por Roma, os judeus, maioria da população, acabaram por revoltarem-se, o que redundou no efetivo domínio romano. Área produtiva, a maior riqueza da região, contudo, era a sua privilegiada posição estratégica. Cada vez mais influenciada pela cultura romano-helenística, o judaísmo resistia, mantendo suas práticas e instituições, mesmo que excluindo a alguns grupos. Ao final do século I, com a Guerra Judaica e a extinção da grande maioria das seitas judaicas, o judaísmo acabou por gerar uma religião autônoma, o cristianismo, e a passar por um processo de cristalização farisaica.